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sábado, 13 de abril de 2024
A química da ressaca
quinta-feira, 11 de abril de 2024
Corais: nova onda global de branqueamento já chegou ao Brasil e preocupa cientistas
Link para matéria completa: https://umsoplaneta.globo.com/biodiversidade/noticia/2024/04/11/corais-nova-onda-global-de-branqueamento-ja-chegou-ao-brasil-e-preocupa-cientistas.ghtml
Por Evanildo da Silveira, para Um Só Planeta.
Resumo: Causa principal é o El Niño, que eleva a temperatura do oceano, mas atividades humanas também estão envolvidas. BNDES lança edital de R$ 30 milhões para projetos ligados a recifes.
Depois de ocorrências registradas em 2016, 2019 e 2020, uma nova onda global de branqueamento de corais está sendo detectada em várias partes do mundo. E, ao que tudo indica, ela será mais intensa do que as anteriores. Causada pelo aquecimento das águas do mar, no Brasil ela foi observada em fevereiro, primeiro na costa do Nordeste e depois na do Rio de Janeiro. Hoje, já há registros desde o Ceará até São Paulo.
Segundo o oceanógrafo Miguel Mies, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), essa nova onda já era esperada. “Nós já sabíamos que ela iria ocorrer, porque temos dados de sensoriamento remoto em parceria com a NOAA, que é a agência de meteorologia e oceanografia norte-americana, que monitora a temperatura dos oceanos”, conta. “Nós imaginávamos que isso iria se manifestar no Brasil, como consequência do El Niño. Só estávamos esperando ver isso acontecer em campo.”
A extensão da nova onda de branqueamento está sendo mapeada por uma rede de pesquisa liderada pelo Projeto Coral Vivo, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), do qual Mies é coordenador de pesquisa. “A gravidade ainda é baixa, mas deve aumentar, visto que há previsão de elevação de temperatura”, explica o biólogo e doutor em Ecologia, Carlos Eduardo Leite Ferreira, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante da rede. “No Sudeste, especificamente em Arraial do Cabo, na semana do Carnaval, a temperatura da água chegou aos 28ºC e observamos que algumas espécies de corais em áreas rasas de praia branquearam parcialmente.”
Os corais vivem, em sua maioria, em regiões rasas tropicais. No Brasil, eles ocorrem desde o Maranhão até Santa Catarina, além das ilhas oceânicas de Abrolhos, Atol das Rocas e Fernando de Noronha. “É esperado o branqueamento este ano em todo o litoral brasileiro”, diz a oceanóloga Priscilla Teixeira Campos, coordenadora do Laboratório Interdisciplinar para Conservação da Vida (ConVida) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). “Aqui no estado, demos o alerta em 6 de fevereiro, na primeira expedição realizada pelo nosso departamento.”
Ao pé da letra, branqueamento não seria a palavra exata para o fenômeno. Na verdade, os corais são animais invertebrados marinhos transparentes. O que dá cor a eles são as algas zooxantelas, com as quais vivem em simbiose. Elas ficam no tecido dos corais e, além da coloração, fornecem compostos orgânicos, dos quais eles se nutrem, produzidos durante a fotossíntese delas. Em troca, os animais fornecem a elas gás carbônico e nutrientes inorgânicos.
Pesquisa estima valor dos corais no Brasil para turismo e proteção costeira
Em situações de estresse, como a causada pelo aumento da temperatura do mar, por exemplo, ocorre a expulsão das zooxantelas dos tecidos dos corais ou a destruição dos pigmentos fotossintetizantes delas. “Quando isso acontece, o que conseguimos ver é o esqueleto calcário dos animais, que é branco (como os nossos ossos)”, explica Campos. “No entanto, ao perder essas algas, o coral também perde boa parte de sua fonte alimentar, então fica fraco e suscetível a doenças e até à morte.”
Mies explica que a nova onda de branqueamento dos corais está relacionado ao fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), que ocorre, tipicamente, a cada seis, sete anos. “Ele tem três fases”, explica. “Uma em que superfícies do oceano esfria, conhecida como La Niña, uma neutra, que não resfria nem esquenta, e uma em que as águas ficam mais quentes, chamada El Nino. É este último que está ocorrendo aqui e agora, já tendo se manifestado no Hemisfério Norte, e agora no Sul.
De acordo com ele, trata-se de um fenômeno natural. “O problema é que atualmente o El Niño está se comportando de uma forma diferente, por conta das mudanças climáticas causadas pelo homem”, diz. “Ele está mais forte, mais intenso e duradouro e mais frequente. Agora, em vez de seis, sete anos, ele está acontecendo a cada cinco, mais ou menos.”
Mies explica ainda que, diferentemente da atual, a onda de branqueamento de 2019, não teve relação com El Nino. “Foi um fenômeno atmosférico local, em escala continental da América do Sul, no Brasil, no lado Atlântico, que bloqueou a chegada de frentes frias e que acumulou uma quantidade de calor absurda”, diz. “O que elas têm de similaridade é que aquela foi muito forte, historicamente nunca tínhamos visto algo como aquilo no Brasil, e a atual será tão intensa ou até mais.”
Corais podem desaparecer em um mundo mais quente - mas há esperança
Para Campos, não se deve, no entanto, responsabilizar apenas o El Niño pelo branqueamento dos corais. “O aquecimento do oceano é um fator bastante estressante, sem dúvidas, apenas um ou dois graus é o suficiente para perturbar esses animais”, diz. “Mas atribuir o branqueamento apenas ao aumento da temperatura das águas, causado pelas mudanças climáticas globais, é cruzar os braços para nada ser feito diante da nossa impotência quanto à regulação do clima.”
De acordo com ela, os impactos mais severos sobre os corais são provocados pela ação humana. Entre eles, a pesquisadora cita a pesca predatória, a carcinicultura, o turismo desordenado, vazamentos de barcos a motor, resíduos sólidos e demais poluentes. “Podemos destacar também, a destruição e degradação em grande escala de hábitats naturais, a salinização do lençol freático de planícies costeiras, o despejo de efluentes com altas cargas de nutrientes, microplásticos, antibióticos e outros produtos químicos, além do escape acidental de espécies exóticas ou biotecnologicamente modificadas, que transmitem doenças aos estoques naturais”, acrescenta.
Campos inclui ainda o uso inadequado do solo, que aumenta o fluxo de sedimento; a poluição agrícola e doméstica e seus efluentes, o uso de fertilizantes e agrotóxicos, a exploração exagerada dos organismos recifais, principalmente para construção civil desde o Século XVII, além da destruição dos manguezais. “Podemos citar também como impactos antrópicos, a poluição em decorrência da instalação de projetos industriais e a exploração de petróleo”, diz. “No Nordeste, tivemos aquele grande derramamento de óleo em 2019. Não se sabe a consequência disso para esses organismos.
Além do papel que prestam para a biodiversidade marinha, os corais são fonte de recursos para o turismo, geram renda para comunidades costeiras, e ainda protegem as cidades litorâneas ricas nesse ecossistema da alta do nível do mar. Nesta semana, o BNDES lançou uma chamada permanente do Fundo Socioambiental do Banco para projetos destinados a contribuir com a recuperação e a conservação de recifes de corais rasos e bancos de corais brasileiros.
O objetivo da iniciativa de R$ 30 milhões é fortalecer a resiliência e contribuir com a diminuição de perdas e recuperação de recifes. Mas o investimento pode chegar a R$ 60 milhões, com a contrapartida dos parceiros que aderirem aos projetos. "Os recifes de corais representam para os oceanos o que as florestas tropicais representam para os continentes" disse a secretária nacional de mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana Prates.
01. "Os corais são animais invertebrados marinhos transparentes. O que dá cor a eles são as algas zooxantelas, com as quais vivem em simbiose. Elas ficam no tecido dos corais e, além da coloração, fornecem compostos orgânicos, dos quais eles se nutrem, produzidos durante a fotossíntese delas. Em troca, os animais fornecem a elas gás carbônico e nutrientes inorgânicos."
A relação ecológica entre os corais e as algas zooxantelas é denominada
A) Competição
B) Colônia
C) Sociedade
D) Mutualismo
E) Comensalismo
02. "De acordo com a oceanóloga Priscilla Teixeira Campos, os impactos mais severos sobre os corais são provocados pela ação humana. Entre eles, a pesquisadora cita a pesca predatória, a carcinicultura, o turismo desordenado, vazamentos de barcos a motor, resíduos sólidos e demais poluentes. 'Podemos destacar também, a destruição e degradação em grande escala de hábitats naturais, a salinização do lençol freático de planícies costeiras, o despejo de efluentes com altas cargas de nutrientes, microplásticos, antibióticos e outros produtos químicos, além do escape acidental de espécies exóticas ou biotecnologicamente modificadas, que transmitem doenças aos estoques naturais', acrescenta.
As espécies exóticas, citadas acima são
A) organismos que são nativos de um determinado ecossistema.
B) animais de estimação que são raros em uma região específica.
C) plantas ou animais que foram introduzidos em um novo ambiente onde não são nativos.
D) seres vivos que migraram naturalmente para novas áreas geográficas.
E) organismos geneticamente modificados para resistir a condições adversas.
03. "Microplásticos são pequenas partículas de plástico comumente definidas como tendo menos de 5 milímetros de tamanho. Eles podem ser originados de várias fontes, incluindo a degradação de plásticos maiores, abrasão de produtos plásticos e até mesmo diretamente em produtos de cuidados pessoais, como esfoliantes faciais. Essas partículas são amplamente encontradas em ambientes marinhos e terrestres, representando uma preocupação ambiental significativa devido aos seus efeitos adversos sobre a vida selvagem e potencial impacto na saúde humana."
Do ponto de vista química os plásticos geralmente são
A) polihidroxialdeídos e polihidroxicetonas.
B) sais inorgânicos cristalizados.
C) hidrocarbonetos aromáticos solúveis em água.
D) polímeros orgânicos artificiais.
E) misturas de fosfolípides e proteínas.
04. "Para a oceanóloga Priscilla Teixeira Campos, não se deve, no entanto, responsabilizar apenas o El Niño pelo branqueamento dos corais. 'O aquecimento do oceano é um fator bastante estressante, sem dúvidas, apenas um ou dois graus é o suficiente para perturbar esses animais', diz. 'Mas atribuir o branqueamento apenas ao aumento da temperatura das águas, causado pelas mudanças climáticas globais, é cruzar os braços para nada ser feito diante da nossa impotência quanto à regulação do clima.'"
Entre as ações antrópicas que poderiam colaborar para desacelerar o aquecimento global, causa importante das mudanças climáticas, podemos citar:
A) Aumentar o lançamento de água doce nos oceanos para estabilizar as correntes marinhas quentes e frias.
B) Diminuir a extração do sal marinho nas salinas por evaporação das águas.
C) Reflorestar as áreas de ecossistemas florestais que foram perdidas por efeitos naturais ou ações do homem.
D) Aumentar o uso de combustíveis fósseis pois os mesmos fornecem bastante gás carbônico para a fotossíntese oceânica
E) Fomentar a pecuária extensiva de gado bovino, que produz esterco que pode ser utilizado na agricultura.
O GABARITO ENCONTRA-SE AO FINAL DESTA PÁGINA...
GABARITO: 01.D 02.C 03.D 04. C
quarta-feira, 10 de abril de 2024
Molécula extraída da peçonha de vespas é promessa para controle da epilepsia (veja as questões propostas ao final).
Venenos e peçonhas podem parecer assustadores à primeira vista. Na natureza, os animais peçonhentos injetam toxinas capazes de alterar o metabolismo de outro animal e até matá-lo, mas também são considerados ferramentas valiosas para a ciência. É o que ocorre com a peçonha da espécie de vespa social típica do Cerrado, conhecida popularmente como marimbondo-estrela. Cientistas brasileiros descobriram na peçonha do inseto uma substância com potencial para tratar epilepsia e, ao mesmo tempo, proteger o cérebro: a occidentalina-1202.
terça-feira, 9 de abril de 2024
NOVIDADE: QUESTÕES DE BIOLOGIA E QUÍMICA PARA ENEM E VESTIBULARES
As notícias publicadas aqui no site, a partir de agora, serão acompanhadas de uma ou mais questões de Biologia e Química sobre o tema da matéria. AGUARDEM!!!
domingo, 24 de março de 2024
Vacinação de rotina infantil: por que pais e cuidadores hesitam?
Link para matéria completa: https://jornal.usp.br/ciencias/vacinacao-de-rotina-infantil-por-que-pais-e-cuidadores-hesitam/
Resumo: De acordo com estudo, crítica às vacinas pode embutir crítica às relações de poder profissional-paciente, apontando para a necessidade de uma comunicação mais democrática na ciência e na saúde.
Florianópolis ocupou a segunda posição no Ranking da Saúde dos Municípios 2020, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), entre as cidades brasileiras com menor taxa de cobertura vacinal. Para entender alguns dos fatores envolvidos neste fenômeno complexo, a hesitação vacinal, uma pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) realizou um estudo qualitativo, entrevistando responsáveis de crianças na capital catarinense.
Ao todo foram entrevistados 29 cuidadores de 18 famílias entre 2021 e 2022. Entre essas, seis vacinaram inteiramente seus filhos e demonstraram confiança na vacinação. Por outro lado, 19 cuidadores de 12 famílias revelaram ser hesitantes à imunização. Os círculos sociais de que os entrevistados participaram foram apontados como principais fontes de questionamento sobre as informações relacionadas às vacinas, com destaque para grupos pré-natais e escolares.
Os responsáveis mencionaram os profissionais da saúde, e principalmente os pediatras, como importantes precursores de informações verídicas sobre a vacinação. A internet também foi bastante citada como possível fonte de consulta, mas com visões divergentes entre os entrevistados. A maioria afirmou evitá-la por temer conteúdos “falsos e alarmistas”.
Diversidade
Para além dos resultados numéricos, a maior diversidade em aspectos como raça/cor, gênero, tipos de núcleos familiares e classes socioeconômicas foi o principal motivo – e o diferencial – da pesquisa. “Normalmente os estudos de hesitação vacinal nacionais e internacionais têm um olhar pouco direcionado às questões da diferenciação social, ou às particularidades da hesitação a partir de critérios sociais”, explica ao Jornal da USP a antropóloga e professora da FMUSP, Márcia Thereza Falcão, que orientou a pesquisa de Camila de Carvalho.
“A hesitação vacinal é um fenômeno específico do contexto e está relacionada à história, época e cultura de cada localidade. Sabe-se que os significados atribuídos à vacinação, e principalmente à recusa vacinal, não são homogêneos em todo o mundo”, escrevem as autoras em artigo.
Florianópolis é conhecida como um reduto para aqueles que procuram um estilo de vida “natural”. Com uma visão holística sobre a medicina, eles tecem críticas sobre a hegemonia da indústria médico-farmacêutica e a obrigatoriedade da vacinação infantil. Mesmo assim, a maior parte afirma não ser contrária às vacinas em si, ou seja, não são anti-vacinas.
Além da oposição à imunização, muitos pais afirmam que conseguem, com seus cuidados, barrar seus filhos de toda e qualquer enfermidade que possam acometê-los. Essa visão individualista acerca dos cuidados com os filhos é um dos resultados de uma tendência atual em que as pessoas buscam cada vez mais cuidados customizados, o que, de acordo com Camila Carvalho, é “epidemiologicamente inviável”. A vacinação em si é individual, mas a cobertura vacinal é uma prática de cuidados de saúde pública e que acaba acarretando num cuidado coletivo, avalia Camila, que é médica de família.
Na capital catarinense, o estudo apontou que os responsáveis que menos vacinaram seus filhos foram aqueles com maior escolaridade e renda. Esse resultado é uma manifestação contemporânea que é quase o oposto ao de um dos marcos da vacinação no País, a Revolta da Vacina. No início do século 20, com influência de um momento de tensão social após recente abolição da escravatura, o medo da população negra e pobre acerca da vacinação contra a varíola estava muito relacionado com a política repressora e um projeto higienista existente no País. Essa visão priorizava a saúde, a educação pública e o ensino de novos hábitos higiênicos pela medicina social, e seus defensores afirmavam que uma população saudável e educada seria a maior riqueza de uma nação.
Na década de 1970, em pleno regime militar, houve a institucionalização do PNI, Programa Nacional de Imunizações, para estimular e expandir a utilização de agentes imunizantes – e, consequentemente, deu início à chamada “cultura de vacinação”. “As pessoas se vacinavam e questionavam pouco o porquê de se vacinar, que passou a fazer parte de uma cultura do cuidado, sobretudo do cuidado infantil”, afirma Márcia Falcão.
Ela relata que surge “a partir dos anos 90, principalmente nos países do Norte Global, e chegando nos países do Sul Global, sobretudo no Brasil, o fenômeno do questionamento da indústria médico-farmacêutica sobre a produção das vacinas, os efeitos colaterais e a eficácia delas”. Em sua avaliação, isso se relaciona com críticas gerais à ciência, mas principalmente a uma ciência que não se comunica com a sociedade.
Camila Carvalho entende que “nunca se teve uma cobertura hegemônica no Brasil, a suposta tradição não sustenta a prática, e a população não saber o porquê se vacina, deixa bem mais frágil”. Até pouco tempo, acreditava-se que o País já teria criado uma “cultura de imunização”, mas o estudo mostra como uma dita tradição não é suficiente para uma cobertura realmente eficaz, tendo em vista as desigualdades no Brasil e as dúvidas não solucionadas de muitos cidadãos.
O estudo, que acabou tendo suas entrevistas conduzidas em plena pandemia de covid, cita o contato com outras famílias hesitantes como o principal gatilho para questionamentos sobre a vacinação de rotina. Para as pesquisadoras, a falta de debates sobre a ciência com a sociedade civil dificulta o entendimento. “Os debates democráticos que ajudem amplas parcelas da população a ter conhecimento científico, a não desinformação e uma defesa justa da ciência, e não cega por parte da classe científica, ajudariam a entender os anseios da população”, complementa Márcia Falcão.
“As famílias entrevistadas apresentam diversas críticas sobre a irredutibilidade e inflexibilidade das instituições diante de suas dúvidas sobre a vacinação. Além disso, o caráter ‘inquestionável’ atribuído às vacinas pelos prestadores de cuidados de saúde é mencionado como uma barreira para o sucesso das discussões sobre vacinas com eles. As famílias sentem que os profissionais de saúde se encontram numa posição de superioridade moral intransponível – e questionam esse estatuto. A crítica às vacinas é também uma crítica às relações de poder estabelecidas na relação profissional de saúde-paciente”, descrevem elas no artigo.
Na avaliação da professora, os governos e instituições públicas de saúde não podem fechar os olhos para as pessoas que duvidam da vacina, porque mesmo sendo uma decisão individual, essas críticas e recusas atingem a saúde de maneira coletiva. “Falar sobre vacina, seja da forma de produzir, da forma de estudar, da forma de entender os mecanismos de ação da vacina, mas também das formas das pessoas duvidarem, entender a forma como as pessoas precisam de melhor informação sobre a vacina, e dos medos ou receios que elas têm da vacina é muito importante para a comunicação pública da ciência”, diz.
Para ela, essa comunicação tem que ser democrática e inclusiva; e não só para um grupo ou para as elites. “A comunicação pública e democrática da ciência é um dever dos cientistas perante a sociedade”, enfatiza Márcia Falcão.
As conclusões da pesquisa foram discutidas no artigo Caregivers’ perceptions on routine childhood vaccination: A qualitative study on vaccine hesitancy in a South Brazil state capital, publicado na revista Human Vaccines & Immunotherapeutics.
FONTE: Jornal da USP - Publicado: 19/03/2024
Texto: Pedro Morani
Arte: Joyce Tenório
quinta-feira, 21 de março de 2024
NOBEL A CAMINHO? Entenda como funciona um transplante de rim de porco para humanos
Link para matéria completa: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/entenda-como-funciona-um-transplante-de-rim-de-porco-para-humanos/
Resumo: No sábado (16/03/2024), o primeiro paciente vivo recebeu um transplante de rim suíno geneticamente modificado, um procedimento histórico comandado por médico brasileiro
O hospital Massachusetts General Hospital (MGH), em Boston, nos Estados Unidos, anunciou nesta quinta-feira (21/03/2024) o primeiro transplante de rim de porco, geneticamente modificado, para um paciente humano vivo. Em comunicado, o hospital afirma que o procedimento inédito foi bem-sucedido e é “um marco histórico no campo emergente do xenotransplante” — nome técnico do transplante de órgãos ou tecidos de uma espécie para outra.
A cirurgia foi comandada pelo médico brasileiro Leonardo Riella, diretor de transplante renal do MGH. Essa é a primeira vez que um transplante desse tipo foi feito em um paciente vivo. Em 2021, uma equipe de Nova York realizou um procedimento semelhante, como parte de uma pesquisa, mas em uma pessoa que tinha sofrido morte cerebral.
De acordo com o comunicado divulgado pelo hospital, o paciente que recebeu o rim de porco transplantado foi um homem de 62 anos, que vive com uma doença renal em estágio avançado. A cirurgia aconteceu no último sábado e, além de Riella, também foi comandada por Tatsuo Kawai, diretor do Centro Logorreta para Tolerância Clínica a Transplantes, e Nahel Elias, chefe interino de Cirurgia de Transplante e diretor de Cirurgia de Transplante de Rim.
O procedimento foi realizado após o aval da FDA (Food and Drug Administration) — equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nos Estados Unidos. A aprovação, sob o Protocolo de Acesso Expandido, é concedida a um único paciente ou grupo de pacientes com doenças ou condições graves e potencialmente fatais para obter acesso a tratamentos experimentais quando não houver outras opções de tratamento ou terapias.
Como um rim de porco se torna compatível com o corpo humano?
Segundo o hospital, o rim de porco sofreu 69 edições genômicas para ser transplantado em um humano vivo. O órgão foi fornecido pela eGenesis de Cambridge, em Massachusetts, de um doador suíno que foi geneticamente editado usando uma tecnologia para remover genes suínos prejudiciais e adicionar genes humanos para melhorar a sua compatibilidade com humanos.
Além disso, os cientistas inativaram retrovírus presentes no doador suíno para eliminar qualquer risco de infecção em humanos. Nos últimos cinco anos, o MGH e a eGenesis conduziram extensas pesquisas na área de xenotransplante, tendo suas descobertas publicadas na revista científica Nature em 2023.
“Existem vários centros no mundo que estão modificando geneticamente os suínos para que eles possam ser doadores de órgãos para humanos e isso chamamos de suínos geneticamente modificados”, explica Elias David Neto, nefrologista do Hospital Sírio-Libanês, à CNN.
“A novidade agora é que os médicos norte-americanos colocaram em uma pessoa viva que estava em diálise um rim de porco geneticamente modificado, o que é um grande avanço, porque só será possível obter informações do que pode dar errado nesse tipo de procedimento quando fizerem o experimento”, comenta o especialista.
O paciente que recebeu o rim suíno geneticamente modificado já havia passado por um transplante de rim humano anteriormente, mas o órgão começou a falhar em 2023. Diante do quadro, os médicos que o acompanham sugeriram o transplante de rim de porco, explicando os prós e contras do procedimento.
“Eu vi isso não apenas como uma forma de me ajudar, mas também como uma forma de dar esperança às milhares de pessoas que precisam de um transplante para sobreviver”, diz o paciente Richard ‘Rick’ Slayman, em comunicado. Desde o procedimento, ele não está em diálise.
De acordo com David Neto, as drogas que são utilizadas após um transplante de rim humano — usadas no tratamento para evitar a rejeição do novo órgão — são as mesmas que estão sendo utilizadas no transplante de rim suíno.
“Uma das drogas que os médicos estão utilizando nesse procedimento atual está sendo aprovada para uso em transplantes, pois é uma droga nova”, afirma. “Mas, como já disse, só saberemos o que vai dar certo e o que vai dar errado a partir de novos experimentos como esse. Existem hormônios e substâncias que são produzidos após o transplante que precisamos entender se vão funcionar. O que já sabemos de estudos feitos em primatas não humanos foi útil, mas têm questões que acontecem com esses primatas que podem não ocorrer em humanos”, completa.
Histórico de xenotransplantes no mundo
O campo de xenotransplantes está em constante crescimento. Apesar de esse ter sido o primeiro transplante de rim de porco feito em um humano vivo, não é o primeiro procedimento que transplanta órgãos de animais em corpos humanos. Outros experimentos já foram realizados anteriormente.
Os primeiros estudos na área foram realizados em primatas não humanos, que receberam órgãos suínos geneticamente modificados. “No entanto, esses estudos se extinguiram, não tem como avançar mais neles, então foi preciso começar os experimentos com pessoas”, contextualiza David Neto.
Diante disso, foram realizados dois transplantes de coração de porco em pessoas vivas. O primeiro caso foi de um homem de 57 anos de Maryland, nos Estados Unidos, que recebeu o coração suíno geneticamente modificado em 2022. Ele sofria de uma doença cardíaca terminal e o órgão era “a única opção disponível” na época, de acordo com comunicado divulgado pela Escola de Medicina da Universidade de Maryland.
Em 2023, um segundo paciente passou pelo mesmo transplante, também conduzido por médicos da Universidade de Maryland. O homem de 58 anos viva com uma doença cardíaca em estágio terminal e havia sido considerado inelegível para um transplante tradicional.
Anos antes, em 2021, foi realizado o primeiro transplante de rim de porco em humano, mas em uma paciente que havia tido morte cerebral com sinais de disfunção renal. Por três dias, o novo rim foi ligado às suas veias e artérias sanguíneas e mantido do lado de fora de seu corpo, o que garantiu acesso aos pesquisadores. O transplante de rim suíno mais recente foi o primeiro em um receptor vivo, representando um marco histórico e “uma potencial solução para a escassez mundial de órgãos”, segundo o MGH.
De acordo com a Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos (UNOS), mais de 100 mil pessoas nos EUA aguardam um órgão para transplante e 17 pessoas morrem todos os dias à espera de um órgão. Um rim é o órgão mais requisitado para transplante, e estima-se que as taxas de doença renal em estágio terminal aumentem de 29 a 68 por cento nos EUA até 2030, de acordo com estudos publicados no Journal of the American Society of Nephrology.
VEJA ABAIXO OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES!!!
Xenotransplante é a troca de órgãos entre espécies diferentes. Atualmente, diversos centros de pesquisa pelo mundo (e inclusive no Brasil) investigam e já testam, na prática, o uso de porcos geneticamente modificados como origem para os órgãos que serão transplantados.
Entre os desafios para o sucesso dos xenotransplantes estão:
- a rejeição do órgão transplantados,
- o crescimento indevido do órgão e
- a transmissão de doenças.
No caso dos porcos, os principais órgãos em estudo para os xenotransplantes são rins e coração.
Inativação do vírus e doenças
É sabido pela ciência que alguns vírus encontrados em animais podem causar doenças graves em humanos. Em agosto de 2017, um estudo publicado pela revista "Science" trouxe uma nova luz sobre o assunto. A nova técnica de edição genética "Crispr", descoberta em 2012, permite que o código seja editado de forma precisa e muito mais barata.
Com base nesta nova técnica, cientistas conseguiram inativar um retrovírus suíno. Eles usaram a fertilização in vitro e manipulam o DNA do ovo fecundado antes que ele se transforme em embrião. Foi retirada a parte da cadeia genética responsável pela produção de enzimas e proteínas que causam rejeição em humanos.
Além da edição genética, os porcos usados em transplantes são criados em condições estéreis para evitar qualquer risco de contaminação.
Risco de crescimento exagerado do órgão
Os mais recentes procedimentos de transplante renal e cardíaco empregaram órgãos provenientes de porcos geneticamente modificados, conhecidos como "porcos de 10 genes", especificamente desenvolvidos para essa finalidade.
Esses porcos foram geneticamente ajustados para evitar reações dos órgãos doados aos hormônios de crescimento humano, prevenindo assim um crescimento descontrolado.
No total, 10 alterações foram feitas:
- Três genes – responsáveis por uma rápida rejeição de órgãos de porcos por humanos, mediada por anticorpos – foram “eliminados” no porco doador.
- Seis genes humanos responsáveis pela aceitação imunológica do coração de porco foram inseridos no genoma.
- Um gene do porco foi eliminado para evitar que o tecido cardíaco transplantado crescesse demais.
Risco de rejeição do órgão transplantado
Mesmo nos transplantes tradicionais, nosso sistema imunológico pode tratar o órgão transplantado como uma infecção e o atacar. Por isso são administrados imunossupressores, que são medicamentos que evitam a rejeição do órgão transplantado.
Em ao menos uma das técnicas usadas para evitar a rejeição do tecido suíno, cientistas experimentaram excluir na edição genética a presença da molécula de açúcar alfa-Gal*. Ela se prende às células dos porcos e funciona como um marcador que alerta o sistema imunológico de que aquilo se trata de um material estranho.
Há ainda outros "marcadores" que podem ser editados, conforme a linha de pesquisa, e "marcadores humanos" podem ser acrescentados ao órgão suíno para enganar nosso sistema imunológico.
* Alfa-gal, também conhecido como alfa-galactose ou galactose-alfa-1,3-galactose, é um tipo específico de açúcar encontrado em algumas carnes vermelhas, como carne de boi, carneiro e porco. Está presente em glicoproteínas da membrana celular de mamíferos não-primatas e funciona como um antígeno que pode ser atacado por nosso sistema imune, daí a importância de sua remoção.
terça-feira, 19 de março de 2024
Lesmas marinhas: 'Olhe, mas não toque': os raros 'dragões azuis' que estão invadindo praias nos EUA
Link para matéria completa: https://epocanegocios.globo.com/sustentabilidade/um-so-planeta/noticia/2024/03/cdataveja-mas-nao-toque-os-raros-dragoes-azuis-que-estao-invadindo-praias-nos-eua.ghtml
Resumo: Animais parecem personagens do Pokémon — mas apesar de fascinantes, são também perigosos."Eles são muito maus nadadores e vão aonde o vento e as correntes os levarem", explica Campbell.
"A lesma-do-mar Glaucus atlanticus, ou dragão azul, é um nudibrânquio pelágico que flutua na superfície do oceano", prosseguiu Tunnell. "Eles costumam ter apenas uma polegada [2,5 cm] de comprimento e se alimentam das toxinas de espécies muito maiores, como as caravelas-portuguesas, que possuem tentáculos de cerca de 9,1 metros."
segunda-feira, 18 de março de 2024
IGUALDADE RACIAL: Comissão nacional visa criar ODS 18 na Agenda 2030 da ONU
Link para matéria completa: https://sagresonline.com.br/comissao-nacional-visa-criar-ods-18-na-agenda-2030-da-onu/#:~:text=A%20proposta%20do%2018%C2%BA%20ODS,maneira%20'transversal'%20aos%20ODS.
domingo, 10 de março de 2024
Sucessão secundária: Cerrado sobrevive e rebrota do subterrâneo após anos de cultivo de pinheiros
Link para texto completo: https://jornal.usp.br/ciencias/cerrado-sobrevive-e-rebrota-do-subterraneo-apos-anos-de-cultivo-de-pinheiros/
Jornal da USP - Texto: Julia Custódio - Arte: Joyce Tenório
Resumo: Quando espécie invasora foi removida, plantas foram capazes de rebrotar a partir de estruturas conservadas embaixo da terra.
Após mais de 40 anos de cultivo comercial de pinheiros (Pinus sp.) em Águas de Santa Bárbara, em São Paulo, a Estação Ecológica da cidade pôs em prática, em 2011, o plano de manejo para retirar essa espécie exótica do local, pertencente ao Cerrado. Após esse processo, uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP observou o rebrotamento de espécies vegetais características do bioma, a partir da sobrevivência de estruturas subterrâneas durante o longo período de distúrbio ambiental causado pelo cultivo exótico. Para as pesquisadoras, a vegetação resistiu tanto tempo embaixo da terra e sem sofrer processos de decomposição por causa de características morfológicas típicas de plantas do Cerrado.
O Cerrado abriga mais de 12 mil espécies de plantas, e um terço delas são exclusivas do bioma. Considerado um hotspot (lugar com alta biodiversidade e grande ameaça de extinção), o bioma perdeu mais de 66 mil km2 entre 2016 e 2023 devido ao desmatamento, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Dentre as ameaças ao Cerrado, o cultivo de vegetações exóticas comerciais reduz drasticamente a ocorrência e desenvolvimento de espécies nativas.
No caso de plantação de pinheiros, a árvore forma uma camada alta de suas folhas no chão, o que, além de mudar as condições de solo, também se decompõe e libera compostos que inibem o crescimento de outras plantas. Depois da retirada dessas árvores da Estação Ecológica, as pesquisadoras perceberam que partes aéreas (órgãos acima do solo das plantas) de algumas espécies começaram a rebrotar.
O rebrotamento é a capacidade de regeneração a partir de tecidos celulares (gemas), que são tecidos meristemáticos (que se dividem) presentes em órgãos subterrâneos das plantas que vivem, principalmente, no Cerrado, onde elas são adaptadas a sofrer perdas ou danos nas partes aéreas.
“Quando nós cavamos nessas áreas para ver como era a regeneração das plantas, havia estruturas muito desenvolvidas, com mais de um metro e meio de profundidade. Estruturas espessas que não poderiam ter sido formadas em tão curto espaço de tempo”, diz Beatriz Appezzato, professora da Esalq e coordenadora do Laboratório de Anatomia Vegetal.
Por isso, um dos objetivos do estudo era entender como as plantas conseguiram ficar tanto tempo sobrevivendo embaixo da terra.
“Florestas” subterrâneas
A pesquisa coletou e analisou exemplares de três espécies de plantas da família Myrtaceae: Eugenia arenosa Mattos, Eugenia sellowiana e Eugenia suberosa Cambess, além da palmeira Syagrus loefgrenii Glassman, que não tem caule aéreo . A tese de doutorado de Gabriela Santos da Silva resultou em dois artigos publicados, um sobre o rebrotamento, publicado no Australian Journal of Botany, e o outro sobre a morfologia das partes aéreas das plantas, na Plant Biology, além de um artigo em andamento sobre palmeiras acaulescentes adaptadas a distúrbios ambientais.
Nas estruturas subterrâneas, o estudo observou que a vegetação tem células com paredes resistentes, chamadas de paredes lignificadas, que acumulam compostos (substâncias fenólicas) que evitam o processo de decomposição. Além disso, essas plantas possuem reservas de carboidrato que funcionam como uma reserva energética durante o estado de dormência e que, no momento da rebrota, auxilia no processo de formação dos novos tecidos aéreos.
Outra estrutura importante é a gema, com células capazes de se dividirem e formar novos órgãos. “Nos sistemas subterrâneos as gemas estão protegidas pelo solo, por tecidos e por compostos químicos, elas estão ali sendo protegidas por diversos aspectos. Então, a capacidade meristemática de formar novos órgãos está sendo protegida, no momento que ela tiver a oportunidade de rebrotar ela vai crescer novamente”, explica Gabriela, primeira autora dos artigos e doutora pela USP.
Ao escavar o solo, as pesquisadoras encontraram plantas clonais, também compostas por estruturas subterrâneas.
“A planta clonal é bastante importante em termos de exploração de água e nutrientes no solo, ou seja, exploração de novas condições de sobrevivência, pois a planta consegue se ramificar e explorar outras áreas”, diz Gabriela.
Segundo ela, essas plantas formam ramos que se espalham de 2 a 3 metros de distância do eixo principal e, quando ocorre o desligamento do eixo de conexão, um novo indivíduo se estabelece. As plantas clonais são comuns no Cerrado, conseguindo colonizar grandes áreas, mas ainda são pouco estudadas no bioma.
O estudo dos órgãos aéreos das Myrtaceae focou em investigar se as plantas, durante o processo de rebrotamento, investem na proteção das gemas aéreas acima do solo. “Essas estruturas são tão importantes quanto o desenvolvimento das gemas subterrâneas. Primeiro as plantas conseguem rebrotar para poder formar os órgãos aéreos, depois elas precisam protegê-los”, diz Gabriela.
Esse levantamento trouxe informações inéditas das estruturas secretoras que mantêm a umidade nas células meristemáticas das plantas. “Aos olhos de pessoas que não são da anatomia ou da morfologia, parecem ser insignificantes, mas na verdade todo o processo depende de seus componentes. Essas estruturas são importantes para manter a umidade nas gemas e garantir que elas consigam se desenvolver e formar novas folhas e ramos aéreos.” Dessas estruturas, foram observados coléteres, que produzem substâncias para manter a umidade nas gemas; os tricomas, que armazenam substâncias de proteção e têm parede de celulose, que reflete a luz solar; os catafilos (pequenas folhas), as cavidades de óleo, entre outras.
Impactos
“A importância da pesquisa é justamente mostrar o impacto que esses cultivos de pinus causam quando introduzidos em áreas campestres de Cerrado. Eles comprometem drasticamente o banco de gemas subterrâneas dessas espécies herbáceas e subarbustivas, que muitas vezes são espécies endêmicas e espécies que estão com risco de desaparecer”, destaca Beatriz. Um dos estudos produzidos pelo Laboratório de Anatomia Vegetal verificou que onde houve o plantio de pinus, o número de gemas foi reduzido 65 vezes em comparação a áreas sem a introdução da espécie exótica.
Para as pesquisadoras, mostrar a capacidade de recuperação e a resiliência dessa vegetação é abrir caminho para novos planos de manejo de terra e de proteção ambiental. “Ao fazer esse tipo de estudo da morfologia e anatomia das plantas, você auxilia no entendimento de como essas plantas estão adaptadas naquelas áreas”, completa a orientadora.
A pesquisa foi financiada pela Fapesp e venceu a 12ª edição do Prêmio Tese Destaque USP, na área de Ciências Agrárias.
sábado, 9 de março de 2024
Cepa de levedura criada na USP produz etanol de segunda geração a partir de açúcares complexos
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Uma nova cepa geneticamente modificada da levedura Saccharomyces cerevisiae demonstrou, em condições semelhantes às industriais, potencial para otimizar em até 60% a produção de etanol de segunda geração (2G) no País sem a necessidade de aumentar a área plantada de cana-de-açúcar. Segundo resultados divulgados na revista Scientific Reports, a inovação poderá também reduzir parte dos custos da indústria. O estudo foi conduzido por pesquisadores da USP e colaboradores, com apoio da Fapesp.
“Atuamos com engenharia metabólica para dar à levedura a capacidade de ser autossuficiente em processos que ela não seria naturalmente”, explica Dielle Pierotti Procópio, pesquisadora do Instituto de Química (IQ) da USP e primeira autora do estudo.
“Além disso, condições mais amenas de pré-tratamento levam à diminuição da produção de certos compostos tóxicos, o que permite uma fermentação melhor do etanol de segunda geração e contribui ainda mais para o rendimento”, completa Basso.
quinta-feira, 7 de março de 2024
Destinação do material radioativo: drones capturam imagens do interior da usina nuclear de Fukushima
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Resumo: A Tokyo Electric Power Co (Tepco), empresa responsável pela usina nuclear de Fukushima, destruída em um terremoto em 2021, divulgou imagens do interior da estrutura. Os registros foram feitos por mini-drones, durante os preparativos para a remoção de material radioativo.
Quase 5.500 litros de água radioativa vazaram da central nuclear japonesa acidentada de Fukushima, mas não foram detectados sinais de contaminação fora das instalações, anunciou a Tepco, no início de fevereiro. Uma porta-voz da TEPCO declarou à AFP que o vazamento foi detectado em uma área da central que processa a água contaminada.
"Calculamos que vazaram quase 5,5 toneladas (5.500 litros) de água na quarta-feira, mas não houve mudanças significativas nos pontos de monitoramento de radioatividade ao redor da central", afirmou.
A central de Fukushima sofreu graves danos em 2011, devido a um terremoto potente seguido de um tsunami, uma tragédia que deixou 18.000 mortos e provocou um dos piores acidentes nucleares da história. A operação de limpeza vai demorar décadas, segundo os especialistas. O Japão iniciou em agosto o despejo de 1,34 milhão de toneladas de água residual tratada no Oceano Pacífico. As autoridades afirmaram que foi coletada após a catástrofe e garantem que não é prejudicial.
sábado, 2 de março de 2024
Relatório sobre espécies invasoras vai integrar estratégia contra o problema no Brasil
Link para matéria completa: https://jornal.usp.br/ciencias/relatorio-sobre-especies-invasoras-vai-integrar-estrategia-contra-o-problema-no-brasil/ Jornal da USP
Resumo: Espécies exóticas invasoras causam danos sérios no campo da saúde e da economia; para especialistas, “o momento de agir é agora”.
Cães domésticos em florestas, búfalos no Cerrado e até os mosquitos da dengue em áreas urbanas são exemplos de espécies estrangeiras invasoras (EEI), que são inseridas por atividades humanas em locais fora dos seus habitats naturais. Esse deslocamento de microrganismos, animais ou plantas ameaça espécies nativas e resulta em problemas ambientais, sociais e econômicos e é uma das cinco maiores causas de perda da biodiversidade em escala global.
O estudo brasileiro Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), caracterizou o problema no Brasil e apresenta os principais dados sobre as invasões biológicas, a introdução dos invasores e os impactos do processo. O relatório foi produzido por 73 autores e 12 colaboradores. Desses, 16 especialistas redigiram o Sumário para Tomadores de Decisão, com o resumo das principais informações, lançado nesta sexta (1º). Esses documentos são os primeiros no Brasil a tratar de forma ampla sobre a temática, voltados, principalmente, para pessoas que possam construir políticas e ações de mitigação para as espécies invasoras. “Sem esse conhecimento, não conseguimos estabelecer ações de manejo ou de prevenção, que são superimportantes no caso das invasões”, pontua Vânia Regina Pivello, professora do Instituto de Biociências (IB) da USP.
No Brasil, o problema das espécies invasoras afeta todas as regiões, com mais de 500 registradas — em torno de 200 espécies de plantas e mais de 250 de animais —, de acordo com o levantamento. Os principais invasores biológicos são: peixes e invertebrados (ex.: piranha, mexilhão, lebiste, pacu) em águas continentais; invertebrados (ex.: peixe-leão, coral-sol, alga verde) em águas marinhas; espécies de variadas árvores em florestas; gramíneas (ex.: capim-gordura) em locais campestres e de savana; e animais domésticos e plantas ornamentais em ecossistemas antrópicos.
Os impactos dessas espécies se estendem por diversas esferas, da saúde humana e animal (como Aedes aegypti e outras epidemias) à ambiental, com a competição entre espécies nativas e estrangeiras e, também, à esfera econômica.
O que mais conhecemos são os impactos na biota [conjunto de organismos que habitam ou habitaram uma área específica do Planeta], mas também há impactos sobre o meio físico, como a descaracterização de ambientes, eutrofização [aumento de nutrientes em lagos e rios que provoca a proliferação de algas] e mudanças no solo. “Tudo isso acaba repercutindo sobre os seres humanos, com enormes perdas econômicas e na saúde”, diz Vânia Pivello, que coordenou o capítulo sobre os impactos.
Segundo o estudo, entre 1984 e 2019 no Brasil, apenas 16 espécies exóticas invasoras (como pragas agrícolas e vetores de doenças) causaram um prejuízo que variou de 77 a 105 bilhões de dólares.
“Em termos de prejuízo econômico, são enormes os problemas que podem causar. Desde os sistemas produtivos, por exemplo, com o mexilhão-dourado impactando as usinas hidrelétricas, até as espécies de plantas que são usadas de forma ornamental ou na horticultura para alimentação, assim como animais para alimentação, que podem impactar outras espécies nativas. Isso vai influenciar nos serviços ecossistêmicos”, explica Andrea Junqueira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do estudo. “Não conseguimos separar o econômico da saúde e da ecologia.”
O processo de invasão ocorre através de atividade antrópica (resultante da ação humana), intencional ou não, com quatro fases principais. As primeiras fases são o transporte e a introdução, em que a espécie consegue chegar a locais fora de sua distribuição natural por causa da interferência humana. Se o organismo sobrevive às barreiras geográficas e ao novo ambiente, a próxima fase é o estabelecimento, dependente do êxito da reprodução no local. E, por fim, a expansão da espécie exótica no novo ambiente.
Apesar de já existirem políticas públicas para combater o fenômeno, é necessário fazer um esforço integrado para, de fato, resolver o problema. “A questão é que elas [as políticas] são pulverizadas. Gostaríamos que elas fossem mais integradas em uma política nacional para as espécies invasoras”, diz Andrea Junqueira.
O manejo dessas espécies deve passar por ações de prevenção, detecção e controle, segundo Michele de Sá Dechoum, professora adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das coordenadoras do relatório. “É possível fazer protocolos e ferramentas que podem ser utilizados por gestores públicos para minimizar ou mesmo impedir a introdução de espécies no País. Um exemplo é a análise de risco: vamos supor um empreendedor que quer introduzir uma espécie no País, ele vai entrar com uma solicitação em um órgão ambiental, que vai fazer uma análise do risco daquela espécie se tornar uma espécie invasora”, cita a pesquisadora sobre a prevenção.
Para as coordenadoras, outro tópico importante para combater o problema é a implementação de medidas de informação pública sobre as invasões biológicas e os tipos de impactos que elas causam. “A maioria das pessoas não sabe que o problema existe, não sabe que, às vezes, uma planta que ela escolhe para colocar no quintal da sua casa ou plantar na rua pode vir a ser um problema para o ambiente natural”, diz Michele Dechoum.
O relatório e o Sumário para Tomadores de Decisão são um primeiro passo para enfrentar o problema e lidar com os impactos ambientais, sociais e econômicos. “Uma mensagem importante que a gente [transmite] nos documentos é que quanto mais demoramos para agir, mais o problema se agrava. O momento de agir é agora”, ressalta a professora.
*Julia Custódio, com informações da Assessoria da BPBES